Preços são desafiadores até mesmo para quem comemorou o resultado do A-4

Certame realizado na última quarta-feira, 4, teve deságios elevados para um volume relativamente pequeno de energia negociada

SUELI MONTENEGRO, DA AGÊNCIA CANALENERGIA, DE BRASÍLIA

Os preços do leilão A-4 desta última quarta-feira, 4 de abril, dividiram as opiniões de representantes das diferentes fontes que participaram do certame. Mesmo para quem comemorou o resultado, como o segmento de energia solar fotovoltaica, os valores de contratação representam um grande desafio para os empreendedores.

No certame foram negociados 298,7 MW médios de energia de empreendimentos com pouco mais de 1 GW em capacidade instalada, para entrega a partir de 2022. O preço médio de venda ficou em R$ 124,75 por MWh, com deságio médio de 59,07% em relação aos preços de referência. Os valores foram os mais baixos já registrados para as fonte eólica, que vendeu energia a R$ 67,60/MWh (73,5% de deságio), e solar ,que teve preço médio de R$ 118,07/MWh (62,16% de deságio).

O presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, Rodrigo Sauaia, disse que o segmento avaliou o resultado como positivo do ponto de vista de volume contratado, e que ele representa um avanço importante para a continuidade de contratação desse tipo de empreendimento. “Esse volume era especialmente importante para a fonte”, destacou Sauaia. Foram contratados aproximadamente 806,5 MW de energia a ser injetada, o que equivale a 1.032 MW em potência pico.

“O preço médio de contratação na faixa de R$ 118,07, em dólares, estamos falando na faixa de US$ 35,25. Um patamar novo do ponto de vista de preço. O menor preço já atingido pela fonte no território nacional e um dos menores preços já praticados na região da América do Sul de uma forma geral”, calculou. Sauaia afirma, porém, que a média dos preços negociados é vista pelo setor como algo desafiador, porque é preciso garantir que os projetos se concretizem nos próximos quatro anos, para que a energia seja entregue à população.

A Absolar atribui a queda dos preços da fonte à redução do custo dos equipamentos, à recuperação do real frente ao dólar e à competição no leilão. Como aconteceu no A-4 de dezembro do ano passado, lembra a associação, o preço da fonte solar foi menor que o de projetos de fontes hídrica e térmica a biomassa. Os 29 projetos fotovoltaicos vencedores do leilão representam investimentos de R$ 4,7 bilhões.

Para a Associação Brasileira de Energia Eólica, o baixo preço da fonte no A-4 “é fruto de questões conjunturais brasileiras como, por exemplo, uma oferta muito grande para uma demanda muito baixa” de energia. A fonte foi a segunda mais contratada, com 33,4 MW médios de quatro projetos com potência instalada de 114,4 MW. O investimento previsto é de mais de R$ 600 milhões.

Em nota, a Abeeólica destacou que, entre novembro de 2015 e dezembro de 2017, não foram realizados leilões de compra de energia nova, o que provocou o represamento de projetos. Essa situação deve ser considerada ao se analisar os preços ofertados nos leilões de ontem e de dezembro de 2017.

“Ainda que a queda dos preços das eólicas seja uma tendência global, no caso do Brasil ainda é cedo para afirmar que o setor encontrou uma média de preços que venha a ser adequada para um cenário futuro, com economia crescendo e com contratações de energia que atendam às necessidades de expansão da matriz elétrica brasileira”, afirmou a associação. A entidade pontua ainda que decisões estratégicas das empresas podem ter influenciado na definição dos preços que elas estavam dispostas a aceitar no leilão. Elas podem, por exemplo, vender no mercado livre parte da energia das usinas que não foi ofertada no certame, “o que significa que o valor apresentado não é exatamente o preço puro da energia no leilão.”

Para as fontes que não tiveram o mesmo desempenho no A-4, a percepção de seus representantes é de o resultado deixou muito a desejar. “Nós achamos o leilão muito ruim”, afirmou o presidente da Associação Brasileira das Pequenas Centrais Hidrelétricas e das Centrais Geradoras Hidrelétricas, Paulo Arbex. Apenas quatro projetos de PCHs e CGHs com potência de 41,7 MW conseguiram vender energia no leilão, com um total de 19,7 MW médios.

O executivo acusou o governo de ter um discurso supostamente favorável às hidrelétricas, que não se reflete nas decisões relacionadas à expansão do sistema. “O setor está muito descontente. A impressão é de que só tem espaço para solar, eólica e térmica fóssil”, disse, Arbex, lembrando que os leilões A-4 e A-6 de dezembro passado privilegiaram térmicas a gás importado, o que significa, na prática, “importar carbono e exportar emprego.”

Ele acrescentou que, ao contrário dos empreendimentos hidrelétricos, as três fontes recebem incentivos e pagam menos impostos. “A gente quer uma contratação maior da nossa fonte. Mataram as UHEs. Esse é um erro histórico que o Brasil está cometendo, e isso vai custar muito caro.”

O presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa, Luiz Otávio Koblitz, reconheceu que havia muita energia para pouca demanda, mas acredita que a operação do leilão não foi justa, porque o governo decidiu privilegiar a fonte solar. “Por que a gente foi preterido?”, questionou o executivo. Ele acha que não há explicação plausível, porque além da intermitência da fonte solar, o preço mais baixo no certame era o das usinas eólicas.

Koblitz calculou se o preço teto era de R$ 291/MWh, para comprar com certa quantidade energia das PCHs o valor contratado teria que ficar entre R$235 e R$250/MWh. Só que foi dada um cotação em MW muito baixa, para facilitar a negociação de contratos com empreendimentos fotovoltaicos, afirmou o dirigente da Abragel. Ele disse que é necessário tratar a questão, para que em agosto o problema não se repita no leilão A-6.

“O que deveria haver no Brasil, e ainda não há, é que no leilão de fontes intermitentes como eólica e solar – com todo o respeito a essas fontes – esses projetos deveriam incluir a instalação de baterias. E essas baterias armazenariam energia na hora em que a produção fosse maior, e na hora em que fosse menor, a energia sairia da bateria, evitaria com que o Sistema Interligado ficasse oscilando, e as outras fontes, como a hidráulica, gastando dinheiro para botar máquina a meia carga, tentando resolver o problema”, disse o empresário. Ele afirmou que, com isso, o custo real da energia intermitente acaba sendo maior que o contratado no certame.

Empreendedores a biomassa, que conseguiram vender 17,1 MW médios de dois empreendimentos com 61,8 MW de capacidade, também acreditam que é necessário um esforço maior do governo para que a fonte tenha mais espaço nos leilões regulados. O gerente em Bioeletricidade da União da Indústria da Cana-de-Açúcar, Zilmar Souza, relatou que no A-4 do ano passado foram cadastrados 42 projetos de usinas a biomassa mas apenas um negociou energia no certame, “também dominado pela fonte fotovoltaica.” Para este ano, foram inscritos 28 projetos.

“O número de projetos contratados junto à biomassa ainda é muito tímido vis-à-vis o potencial desta fonte. Por isto, é importante uma sequência regular e crescente na contratação da biomassa nos leilões regulados. Isso estimulará a estruturação de um número maior de projetos de bioeletricidade a cada novo certame, além de promover a expansão da geração diversificada na matriz elétrica brasileira”, argumentou Souza.

O próximo leilão de energia nova previsto para 2018 é o A-6, que prevê a negociação de contratos com inicio de suprimento em janeiro de 2024. Haverá ainda dois certames de energia existente do tipo A-1 e A-2.