PCH´s colocam leilão de sexta sob intensa desconfiança

Paranoá Energia | 29 de agosto de 2018

Maurício Corrêa, de Brasília

 

O leilão de energia elétrica que será realizado nesta sexta-feira provavelmente será um sucesso. Mas ocorrerá sob um manto de forte desconfiança por parte de empreendedores de pequenas centrais hidrelétricas, que não acreditam totalmente nos critérios aplicados pelo Ministério de Minas e Energia.

Nesta terça-feira, 28 de agosto, o presidente da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa (Abragel), Ricardo Pigatto, disse a jornalistas que o segmento “vem há muito tempo lutando para conseguir espaços nos leilões” e sempre esbarra em critérios técnicos que não são nítidos, o que acabaria prejudicando o setor das PCH´s.

Ele explicou que a Abragel foi ao MME, há cerca de duas semanas, para perguntar as razões pelas quais as PCH´s sempre são preteridas nos leilões de energia elétrica. Como resposta, foi informado que as PCH´s não se habilitavam aos leilões; se habilitavam, não apresentavam garantias; e, se apresentavam garantias, não bidavam, ou seja, não ofereciam propostas concretas.

“Não é verdade”, disse o presidente da Abragel com veemência. Por esta razão, ele antecipou que, nesta sexta-feira, na hora do leilão, “estaremos vigilantes”. Nesse próximo leilão, aliás, a fonte solar não participa, mas, em compensação, foram cadastrados 27.142 MW de projetos eólicos e 28.656 MW de projetos térmicos a gás natural. “Vamos acompanhar a dosimetria que o MME vai adotar”, antecipou Pigatto, repetindo que, como escoteiros, “estaremos atentos e vigilantes e depois faremos um balanço”.

Diplomático, ele disse que não existe suspeita sobre o leilão, mas que a associação gostaria de conhecer melhor em que bases funciona o critério aplicado pelo MME para escolher as fontes de energia que serão finalmente beneficiadas. Com mais de 800 MW cadastrados nesse leilão, ele acredita que as PCH´s estão em boas condições para alcançar resultados positivos. “A PCH é o custo mais transparente de toda a geração”, garantiu.

Para o presidente da Abragel, existe uma distorção na definição dos custos da energia que não é observada pelos técnicos do MME. No seu entendimento, a energia eólica torna-se de fato muito competitiva quando se olha para o valor seco ofertado, mas se esquece que, devido à intermitência dos ventos, nos momentos em que o parque eólico não gera, a energia é compensada por outras fontes, o que acaba encarecendo aquele valor original ofertado pelo projeto eólico no momento do leilão. Na sua avaliação, essa distorção está sendo fundamental para afastar a aprovação de projetos de PCH´s.

Inclusive, ele explicou que isso é tão patente que, na região Sul, onde também existem projetos eólicos em grande quantidade, o custo da intermitência é mais barato do que no Nordeste, devido à forte existência de geração hídrica na região, principalmente na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina, onde foram construídas várias usinas nos rios Uruguai e Pelotas.

Um empreendedor de PCH´s comentou com este site que a metodologia para definição das fontes em leilões públicos, elaborada na época da então presidente Dilma Rousseff, “está toda errada e já está passando da hora de ser modificada e atualizada corretamente”. Inclusive a mesma fonte alertou que se o leilão desta sexta-feira comprar 1 KW térmico antes de qualquer hidráulica “será uma tremenda burrice”.

Para esse empreendedor, há uma outra questão que não pode ser esquecida, em um momento como o atual em que existem mais de 12 milhões de desempregados no País. No seu raciocínio, o leilão permite que seja comprada, por exemplo, a energia de uma única usina térmica com 450 MW de geração e, neste caso, vem tudo pronto do exterior, praticamente sem empregar ninguém dentro do Brasil. Ao contrário, as PCH´s têm o poder de repartir projetos por várias partes do País, considerando que todo o seu equipamento é produzido pelo mercado local. “Está todo mundo de olho nesse leilão”, garantiu a fonte.

*Link da matéria: http://www.paranoaenergia.com.br/manchete/2018/08/29/pchs-colocam-leilao-de-sexta-sob-intensa-desconfianca/