Matriz de energia elétrica diversificada garante segurança

Estadão – Especial Setembro/2015, 14/09/2015

A força hídrica do Brasil está acima de qualquer suspeita – são 12 grandes bacias hidrográficas espalhadas pelo território, com oportunidades gigantescas para geração de energia. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica, são 260 GW de potencial hidráulico em todo o País, o que nos coloca entre os cinco maiores do mundo nesse quesito.

 

No entanto, todo esse potencial inerente à geografia do País tem sido questionado – não só pela clara dependência de um único mecanismo gerador, como também por um fator inesperado: a mudança climática. Enfrentamos agora uma fase de estiagem e, exatamente por isso, algumas hidrelétricas não têm conseguido atender às demandas de energia. O resultado é uma economia estagnada, e com risco de apagões.

 

Foi neste contexto que, em 2014 e 2015, ganharam relevância as usinas termoelétricas, responsáveis por 29,8% de participação na matriz energética brasileira. A crise hídrica que despontou no ano passado se agravou ao longo de 2015, limitando o fornecimento de energia de origem hídrica. As termoelétricas foram então ligadas de modo a garantir que a luz chegasse até residências e indústrias em todo o Brasil.

 

Uma das indústrias que desfrutaram da geração adicional de energia foi a International Paper, do segmento de Papel e Celulose. A unidade de Mogi Guaçu conseguiu ampliar a sua capacidade de geração de energia de 27 megawatts para 29 megawatts, com turbinas a vapor fornecidas pela alemã Siemens. O volume foi utilizado para uso próprio e o excedente foi para a rede elétrica.

 

A diversificação das fontes de energia foi essencial para garantir o fornecimento neste período de estiagem. E nela também reside a segurança para futuras limitações da rede tradicional. “Essas fontes de energia são complementares. A pulverização de investimentos é a melhor alternativa”, sinaliza Charles Lenzi, presidente da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa (Abragel).

 

É importante destacar que uma das principais questões que limitavam uma adoção maior da energia termoelétrica era a geração de poluentes causadores do efeito estufa. No entanto, o cenário é diferente hoje, graças ao avanço dos equipamentos e dos processos. Gerhard Ett, estudioso do ramo de energia do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo, lembra que já há tecnologias disponíveis para aproveitamento dos resíduos das termoelétricas em outras cadeias produtivas. “Já é possível transformar o CO em um polímero que pode se dar origem a polipropileno ou polietileno, por exemplo”, diz.

 

Novas fontes de energia ganham importância na matriz energética 
O último recorde na produção de energia eólica, segundo o Ministério das Minas e Energia, foi em julho, quando foram produzidos 2.989 megawatts em um dia, o suficiente para abastecer 13 milhões de pessoas. Em um ano, a produção da energia eólica deve representar apenas 3,5% da matriz de energia elétrica. Mas, embora a participação ainda seja pequena, é 179% a mais que no último período de 12 meses finalizados em julho, evidenciando a força de crescimento do setor. Atualmente, segundo a ANEEL, são 412 usinas com potencial de geração de 9.747 megawatts em energia já outorgadas.

 

A energia solar tem, hoje, participação ainda menor na matriz energética brasileira. Porém, são boas as expectativas de crescimento, já que 32 novas usinas fotovoltaicas obtiveram outorga no primeiro semestre deste ano. De acordo com a ANEEL, elas devem entrar em operação comercial entre 2016 e 2017, agregando 919 megawatts de potência.