Liquidação financeira de contratos de energia na CCEE tem calote recorde de 56%

(Por Luciano Costa)

Reuters, 16/10/2015

SÃO PAULO (Reuters) – A liquidação financeira do mercado de curto prazo de eletricidade referente a julho e agosto registrou uma inadimplência recorde de 56,34 por cento, o que representa 2,4 bilhões de reais, dos 4,27 bilhões de reais envolvidos na operação, informou a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) nesta quinta-feira.

Segundo a CCEE, a maior parte do calote, ou 2,2 bilhões de reais, deve-se à obtenção de liminares por agentes do mercado que se protegem do déficit de geração das hidrelétricas, prejuízo este que seria rateado não fossem as decisões judiciais provisórias.

De acordo com a CCEE, se desconsideradas as liminares, a inadimplência real seria de 4,72 por cento do total envolvido na operação.

O mercado esperava um “rombo” de até 90 por cento, depois de a última liquidação, realizada em setembro, registrar uma inadimplência de quase 50 por cento e a CCEE enfrentar um número cada vez maior de liminares por parte das empresas.

“É menos ruim do que se imaginava, mas não é para comemorar”, afirmou à Reuters o presidente da comercializadora de energia Comerc, Cristopher Vlavianos.

Para o especialista, o temor em relação à inadimplência fez com que as empresas negociassem energia com desconto no mercado livre para não ter créditos a receber na liquidação da CCEE, o que provavelmente ajudou a reduzir a inadimplência.

“Diminui o próprio valor envolvido na liquidação. A expectativa era de que fosse por volta de 5 bilhões de reais”, disse Vlavianos.

Para Andrew Frank, presidente da comercializadora América Energia, a situação do mercado é “insustentável” se as liminares seguirem em vigor.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) tenta costurar um acordo para compensar parcialmente as perdas das hidrelétricas com a seca, em troca de as empresas retirarem as liminares. Mas as negociações vêm se arrastando e causando incertezas quanto às liquidações na CCEE.

As liquidações da CCEE promovem pagamentos e recebimentos entre as empresas do setor, com a liquidação de diferenças entre energia gerada ou consumida em relação aos montantes contratados.

Empresas que produzem acima do previsto, como termelétricas da Petrobras, que estão ligadas em plena carga, costumam ser as maiores credoras nas liquidações, segundo especialistas.