Usinas de menor porte têm custo simular ao de eólicas e solares, defende associação
Por Luiz Maciel — Para o Valor, de São Paulo
30/08/2024
Principais responsáveis pelo perfil sustentável da matriz energética brasileira, as hidrelétricas andam esquecidas desde a construção de Belo Monte (PA), cujo projeto precisou ser revisto e subdimensionado diante da grande pressão social contra os impactos ambientais que causaria. A usina foi inaugurada em 2016 com um reservatório menor que o previsto – o que reduz a sua capacidade de geração efetiva – e o compromisso do consórcio Norte Energia, que a construiu, de desembolsar R$ 7 bilhões em indenizações a pescadores da região, além de reconstruir toda a rede de água e esgoto da cidade de Altamira (PA).
“Belo Monte ficou marcada pelos impactos que produziu, desencorajando novos projetos de hidrelétricas de grande porte”, nota Glaucia Fernandes, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em mercado de energia. “Abriu-se espaço para a implantação de usinas solares e eólicas, que seguem em expansão acelerada no país, até porque exigem muito menos tempo e investimento para gerar energia”.
A opção pelas eólicas e solares também está adiando a construção de pequenas e médias hidrelétricas. Para representantes do setor, porém, elas teriam mais impactos positivos do que negativos. “Hidrelétricas de menor porte são importantes até para sustentar o crescimento das eólicas e solares, que não podem operar na falta de sol ou vento”, defende Charles Lenzi, presidente da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa (Abragel).
Nas contas da Abragel, mais de 600 projetos de pequenas centrais hidrelétricas (CGHs, quando geram até 5 MW, e PCHs, até 50 MW) esperam licenciamento ambiental ou desembaraços burocráticos, embora já tenham sido aprovadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Juntas, acrescentariam cerca de 10 mil MW à matriz energética brasileira, cuja capacidade superou os 220 mil MW.
Alessandra Torres, presidente da Associação Brasileira de PCHs e CGHs (Abrapch), diz que a construção dessas usinas traria investimentos de R$ 120 bilhões pulverizados pelo país, oferta de milhares de empregos e disponibilidade de centenas de pequenos reservatórios que poderiam ser usados para o fornecimento de água. “Além disso, as hidrelétricas, independentemente do seu tamanho, têm uma vida útil muito longa, superior a cem anos, e passam automaticamente para o controle da União após 30 anos de operação”.
Quanto aos impactos ambientais das PCHs e CGHs, ela aponta que outros tipos de usinas também produzem desmatamento. “Eólicas são acusadas de interferir na rota e habitat dos pássaros, enquanto usinas solares, ao cabo de 15 anos de operação, têm de dar um destino correto aos painéis que perdem a vida útil. E ainda não se sabe bem o que fazer com esse lixo eletrônico”, diz.
Sobre o custo da energia, mais cara nas CGHs e PCHs, Lenzi cita um estudo da Volt Robotics para a Abragel que destaca custos indiretos da geração, como os subsídios dados a eólicas, solares e termelétricas, e conclui que há equilíbrio entre as fontes, sendo a geração distribuída dos painéis solares residenciais a mais cara, e a hidrelétrica, a mais barata.
“A apuração dos reais custos que uma fonte traz para os consumidores é importante para definir políticas de incentivo ou mesmo o planejamento do sistema e da realização dos leilões [de energia”, afirma o presidente da associação.