RS tem potencial para mais que dobrar geração de hidrelétricas de menor porte

Jefferson KleinRepórter

Jornal do Comércio – 01/04/2024

Presidente-executivo da Abragel, Charles Lenzi

Presidente-executivo da Abragel, Charles Lenzi

Divulgação Abragel/JC

Atualmente, o Rio Grande do Sul conta com 46 hidrelétricas de pequeno porte (abaixo de 50 MW de capacidade instalada) em operação que somam 691 MW (o que corresponde a cerca de 20% da demanda média de energia dos gaúchos). De acordo com o presidente-executivo da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa (Abragel), Charles Lenzi, o Estado tem possibilidade de acrescentar 755,5 MW a esse total, através de 59 projetos que já se encontram tramitando dentro da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Todos esses complexos saindo do papel representariam um investimento hoje estimado em mais de R$ 11 bilhões.

Jornal do Comércio (JC) – Qual o potencial brasileiro para o desenvolvimento de hidrelétricas de menor porte (até 50 MW)?
Charles Lenzi – Se a gente pensar naquelas que têm projeto definido, aprovado pela Aneel e estão dentro de alguma fase de licenciamento ambiental, viabilização econômica, ou seja, o empreendedor já fez os estudos, estamos falando em mais ou menos 9 mil MW. Algo em torno de 600 usinas que estão espalhadas, praticamente, do Centro-Oeste para baixo.

JC – Particularmente no Rio Grande do Sul, quais seriam os números?
Lenzi – Se pegar os projetos aprovados e de usinas autorizadas, mas que não iniciaram a construção, são 755,5 MW de capacidade instalada, o que representa 59 hidrelétricas.

JC – Qual seria o investimento necessário para construir essas usinas?
Lenzi – Com uma média de R$ 15 milhões por MW instalado, seriam mais de R$ 11 bilhões em investimentos.

JC – Quantos empregos são criados na implantação dessas usinas?
Lenzi – Mais ou menos 50 a 60 empregos, a cada MW instalado.

JC – Na sua opinião, qual seria o mercado adequado para comercializar a geração dessas hidrelétricas de menor porte?
Lenzi – Eu defendo que sejam realizados leilões específicos para esse tipo de usina, que saiam da competição a partir de preço contra as térmicas, eólicas e solares. A solução que eu vejo é ter uma política pública voltada para o tema. Se abandonarmos as fontes que são firmes e que dão flexibilidade (à matriz elétrica) e usarmos somente as que são intermitentes (que oscilam), será muito oneroso preservar a segurança e a confiabilidade desse modelo. Teria que colocar sistemas gigantescos de baterias, que ainda são muito caros, teria que investir pesadamente no reforço da transmissão e não teria backup (opção alternativa de segurança) e daí, de forma emergencial, por exemplo, teríamos que contratar térmicas.

JC – Mas, e quanto às fontes eólica e solar?
Lenzi – Temos um potencial gigantesco de eólica e solar no Brasil. Porém, são fontes intermitentes. Então, quem vai suprir essa geração de energia para atender à demanda quando essas fontes deixam de produzir? Temos que ter flexibilidade operativa e a hidrelétrica é o melhor recurso para isso. A térmica é uma ótima opção também, só que entre usinas com reservatórios hidrelétricos e uma termelétrica com reservatório de óleo, de gás ou carvão, vamos usar hidrelétricas. É uma questão pura e simplesmente técnica. Eu tenho a plena convicção que se a gente não avançar na construção de mais hidrelétricas, inclusive usando reservatórios, vamos cometer um erro estratégico muito significativo para o futuro e vamos nos arrepender.

JC – E os reflexos ambientais inerentes à implantação de uma hidrelétrica?
Lenzi – A gente tem que tratar das questões ambientais. Não defendo que a gente coloque hidrelétricas em tudo que é trecho de rio. Mas, entre não fazer nenhuma e fazer algumas, que sejam viáveis e sustentáveis, tem uma diferença muito grande. Há um ranço difícil de resolver que é esse viés negativo a respeito da hidrelétrica.

JC – Entre os argumentos dos que apoiam o uso das pequenas hidrelétricas está o de que essas usinas estão perto dos centros de carga e não implicam maiores investimentos em sistemas de transmissão de energia. Esse raciocínio é correto?
Lenzi – Sim. No ano passado, o Brasil gastou quase R$ 60 bilhões em linhas de transmissão, principalmente do Nordeste e do Norte de Minas Gerais para escoar energia eólica e solar produzidas nessas regiões para o Sudeste. Quando se fala em custo de energia, a gente não computa esse valor da transmissão.

JC – E como fazer para que essa vantagem das hidrelétricas de menor porte seja colocada na ‘balança’?
Lenzi – É preciso planejamento, porque quando olhamos a matriz elétrica e o fornecimento de energia, a gente se preocupa com algumas coisas: preço, confiabilidade e segurança. Ou seja, eu quero ter certeza de que quando eu apertar um interruptor a luz vai acender e eu vou pagar uma tarifa razoável, justa. Eu acredito que o Brasil ainda tem um futuro brilhante pela frente, do ponto de vista de geração de energia, e as hidrelétricas têm um papel fundamental a desempenhar, especialmente as pequenas devido à complementaridade que podem oferecer em termos de geração limpa e renovável.

Link da matéria – Jornal do Comércio: https://www.jornaldocomercio.com/economia/2024/04/1148713-rs-tem-potencial-para-mais-que-dobrar-geracao-de-hidreletricas-de-menor-porte.html