Leilão confirma tendência de elevação dos preços da energia no Brasil.

Agência Estado, 04/05/2015

O resultado do leilão A-5 realizado nesta quinta-feira confirmou a expectativa de que a energia elétrica do consumidor brasileiro ficará mais cara no longo prazo. A energia a ser gerada por 14 usinas e fornecida a partir de 2020 foi negociada a um preço médio de R$ 259,19/MWh, o que representa uma alta de 32,2% em relação ao preço médio da energia comercializada no leilão A-5 de novembro passado. Na comparação com o leilão realizado em dezembro de 2013, a diferença é ainda maior, de 135,8%.

 

O termo A-5 é utilizado para definir a partir de quando a energia leiloada deve ser fornecida. No caso do leilão de 2013, a energia será leiloada a partir de 2018. No caso do leilão realizado hoje, o fornecimento tem início em janeiro de 2020. Os contratos de abastecimento costumam oscilar entre 20 e 30 anos.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Nelson Leite, esta é principal ressalva feita ao resultado do leilão de hoje. “O leilão atendeu a demanda das distribuidoras e, do ponto de vista de segurança energética, foi um sucesso. Mas o ágio foi mínimo, o que demonstra que gerar energia elétrica no Brasil está ficando mais caro”, salientou Leite em entrevista ao Broadcast. O deságio no leilão de hoje ficou em apenas 0,92%, basicamente em função de preços mais atrativos da energia a ser gerada por térmicas a biomassa, nos quais o deságio ficou em 3,2%.

 

Ao mesmo tempo em que o preço mais elevado sinaliza para custos mais altos de energia aos consumidores, eles são necessários para atrair investidores interessados na construção de novas usinas. Entre os 14 projetos licitados hoje, chama atenção a hidrelétrica de Itaocara, no Rio de Janeiro. A usina foi habilitada para o leilão de novembro passado, mas não recebeu proposta. Na oportunidade, o preço-teto para a energia a ser gerada no local foi estabelecido em R$ 114/MWh. Para evitar um novo fracasso, desta vez o valor máximo foi elevado em 36%, para R$ 155/MWh. O preço proposto pela Light e pela Cemig, empresas que venceram a disputa por Itaocara, ficou em R$ 154,99/MWh.

Justamente em função dos preços mais elevados, o presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Energia Elétrica (ABCE), Alexei Vivan, acreditava que o volume contratado no leilão fosse ser maior. A capacidade instalada das usinas licitadas totaliza 1.973 MW, o equivalente a 29,3% da potência total habilitada para o certame. “Os preços estão melhores do que aqueles do leilão de novembro do ano passado, e a necessidade de contratar (energia) existe. Mas há a impressão de que o empreendedor prefere adotar maior cautela, entrar em um leilão, assimilar o resultado e se preparar para outros”, analisa.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim, destacou que a recente trajetória de alta dos preços não representa uma sinalização de que a energia em futuros leilões estará sempre mais atrativa. O preço em novos leilões, afirmou Tolmasquim, pode cair caso o real volte a se valorizar, por exemplo. “A gente aumenta o preço-teto de acordo com as condições”, afirmou o presidente da EPE.

Os preços do leilão de hoje, mais altos tanto para as térmicas quanto para os projetos hidrelétricos, também refletem as taxas menos favoráveis de financiamento e a decisão do governo federal de elevar a taxa de retorno dos investidores. Ontem, o BNDES confirmou a redução da fatia máxima financiável dos projetos de usinas hidrelétricas acima de 30 MW e de térmicas de origem não renovável de 70% para 50%.

 

O presidente da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa (Abragel), Charles Lenzi, concorda que os preços da energia são mais atrativos, o que justificou o leilão de oito pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), segmento com maior número de projetos contratados. O preço-teto de R$210/MWh estabelecido pela Aneel para projetos hidrelétricas, porém, continua sendo considerado baixo. “As PCHs se saíram bem no leilão de hoje, mas o grande entrave permanece sendo o preço. Se pensarmos em um novo leilão, precisamos discutir um valor de R$250/MWh a R$260/MWh”, disse Lenzi.

 

O valor não é considerado alto pelo presidente da Abragel em função da decisão do governo de estipular um teto de R$281/MWh para térmicas abastecidas com gás natural, carvão ou biomassa. “Se estamos dispostos a pagar R$281/MWh para térmicas, também poderíamos pagar isso para PCHs”, comparou. As oito PCHs licitadas hoje possuem capacidade instalada de 164,3 MW, pouco para um segmento com potencial para viabilizar 10.000 MW em nova capacidade.

A energia mais cara do leilão realizado pela Aneel virá da térmica a gás a ser construída pela Genpower em Sergipe, negociada por R$ 279/MWh. O projeto, contudo, é importante em termos de garantir maior segurança energética ao sistema elétrico brasileiro, pontuou Tolmasquim, da EPE. O leilão de hoje garantiu investimentos superiores a R$ 6 bilhões em novos projetos de geração.