Pequenas Centrais Hidrelétricas – Uma visão mundial e as oportunidades para o Brasil

Algumas reflexões emergem da análise dos dados disponibilizados. A primeira é a constatação de que praticamente todos os países do mundo investem na construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas

Em 2022 a UNIDO, Organização para o Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas em cooperação com o ICSHP, Centro Internacional em Pequenas Centrais Hidrelétricas publicaram o World Small Hydropower Development Report (WSHPDR 2022) com informações sobre o desenvolvimento das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) no âmbito mundial.

A versão atual do relatório inclui três publicações temáticas complementares que exploram importantes aspectos do desenvolvimento das PCHs em todo mundo: empoderamento de gênero, envolvimento dos jovens e mudanças climáticas, além de apresentar uma base de dados com informações detalhadas de projetos de PCHs em 129 países. Cabe destacar que alguns países não forneceram informações detalhadas em vista de restrições legais e, portanto, seus dados não constam da base de dados.

Na perspectiva geral, a capacidade mundial instalada de PCHs com potência menor ou igual a 10 MW é de aproximadamente 79,0 GW e o potencial total conhecido, incluindo projetos em operação, é estimado em robustos 221,7 GW. Ou seja, 64% do potencial mundial de PCHs permanece inexplorado, confirmando notável oportunidade para desenvolvimento de uma fonte renovável e segura de energia.

A China continua dominando o panorama mundial com 53% da capacidade total instalada de PCHs de até 10 MW, seguida pelos Estados Unidos, Itália, Japão e Noruega.

A base de dados do WSHPDR 2022 apresenta informações de129 países, oferecendo uma visão importante sobre este segmento de geração de energia elétrica. Os dados relativos aos projetos já construídos e aos potenciais são incluídos na base de dados em função das definições regulatórias de cada local, o que pode diferir da definição padrão adotada de capacidade instalada de 10 MW. No Brasil, por exemplo, uma PCH pode ter até 30 MW de capacidade instalada. Com base na definição adotada pelo estudo, os dados demonstram a existência de 6.249 PCHs em operação no mundo, correspondendo a uma capacidade instalada de 24.436 MW. Além disso, estão identificados projetos potenciais de outras 8.860 PCHs com uma capacidade combinada de 34.208 MW.

Ao analisar a base de dados podemos constatar uma série de informações interessantes. Vamos a elas. A Noruega é o país do mundo que possui o maior número de usinas hidrelétricas de pequeno porte, com 1.338 usinas em operação com uma capacidade instalada de 2.924 MW. O Brasil aparece logo a seguir com 1.012 centrais e capacidade instalada de 5.887 MW. A Suíça vem em terceiro lugar com 509 empreendimentos. No entanto, é importante ressaltar as diferentes dimensões geográficas desses países, já que o Brasil abrange uma vasta extensão territorial de dimensão continental.


Na perspectiva de projetos potenciais de PCHs, a Índia lidera com 5.062 projetos e uma capacidade de 11.540 MW, seguida pelo Brasil com 686 projetos e capacidade de 9.788 MW. Chama a atenção que embora a China seja a líder global em termos de desenvolvimento de PCHs, seus dados de projetos potenciais não estão incluídos na base de dados do relatório.


Algumas reflexões emergem da análise dos dados disponibilizados. A primeira é a constatação de que praticamente todos os países do mundo investem na construçãode Pequenas Centrais Hidrelétricas. Ou seja, estamos falando de uma tecnologia de geração de energia elétrica limpa, renovável e segura, mundialmente aceita e com enorme potencial a ser ainda explorado. Destaca-se o significativo aproveitamento dos potenciais existentes na Europa (52% para PCHs até 10 MW), sendo que a Europa Ocidental já tem 83% de seu potencial conhecido desenvolvido, notadamente Noruega, Itália, França, Áustria, Suíça e Espanha, por exemplo.

O Brasil, que tem uma base hidrelétrica significativa é responsável pela existência de uma matriz elétrica das mais limpas e renováveis do planeta, enfrenta enormes dificuldades para desenvolver seu potencial hidráulico. Apesar das substanciais vantagens técnicas e atributos positivos da geração hidrelétrica que contribuem para o sistema e para o meio ambiente, o país carece de política pública voltada para esse segmento. A implementação de política pública para o fomento dessa fonte renovável é necessária, visto que os aproveitamentos hidrelétricos são bens da União. Ou seja, após o término do prazo concedido para exploração, esses ativos retornam para a União e para a sociedade brasileira, continuando a produzir energia limpa e renovável por mais de 100 anos.


Além disso, a cadeia produtiva é 100% nacional, gerando empregos, desenvolvimento e renda em nosso país. As centrais hidrelétricas são fundamentais para o equilíbrio do sistema elétrico brasileiro, garantindo a flexibilidade operativa, a segurança e a confiabilidade necessárias para atender à demanda dos consumidores. Não é possível pensar num contexto de transição energética, desafios de descarbonização e mudanças climáticas e crescimento de fontes renováveis intermitentes, como eólica e solar, sem considerar a importânciada geração hidrelétrica. As pequenas centrais hidrelétricas ajudam a desempenhar um papel crucial nesse contexto. Existem atualmente 631 projetos aprovados na Aneel, correspondendo a 9.666 MW de capacidade instalada, distribuídos por praticamente todo o território nacional. Esses projetos representam investimento potencial de R$ 120 bilhões e podem contribuir significativamente para a expansão e equilíbrio da nossa matriz elétrica de forma limpa, renovável e perene.

Charles Lenzi é presidente-executivo da ABRAGEL.

Fonte: https://www.canalenergia.com.br/artigos/53274059/pequenas-centrais-hidreletricas-uma-visao-mundial-e-as-oportunidades-para-o-brasil