O relatório de 2024 do Fórum Econômico Mundial (WEF) sobre a transição energética destaca o progresso global, com especial atenção às economias emergentes, como Brasil e China, que obtiveram avanços notáveis. O Brasil, com seu vasto potencial hidrelétrico, se posiciona como um dos líderes nesse processo, embora ainda enfrente desafios significativos.
O Brasil tem feito progressos significativos na transição para uma matriz energética mais limpa. Segundo o relatório do WEF, o país melhorou seu Índice de Transição Energética (ETI), alcançando a 12ª posição global, graças à sua longa tradição de uso de energia hidrelétrica e à recente expansão da capacidade solar e eólica. A hidreletricidade continua a ser a principal fonte de energia renovável no Brasil, representando cerca de 60% da capacidade instalada do país.
China também obteve avanços notáveis e está na 17ª posição no mesmo índice. Essas posições refletem os esforços significativos desses países na promoção de energias renováveis e na transição para uma matriz energética mais sustentável.
A hidreletricidade tem sido a base da matriz energética brasileira por décadas, sendo a espinha dorsal da energia renovável brasileira. O Brasil possui uma das maiores reservas de água doce do mundo, o que facilita a geração de energia hidrelétrica. As usinas hidrelétricas não apenas fornecem uma fonte estável e confiável de eletricidade, mas também contribuem significativamente para a redução das emissões de carbono do país.
Embora a hidreletricidade tenha muitos benefícios, ela não está isenta de desafios. Uma das vulnerabilidades se refere às variações climáticas, como secas prolongadas, que podem reduzir a capacidade de geração de energia. As mudanças climáticas aumentam a frequência e a intensidade dessas secas, influenciando diretamente na geração de energia hidrelétrica do país.
Para mitigar os riscos associados à mudança climática e diversificar sua matriz energética, o Brasil tem investido em outras fontes de energia renovável, como solar, eólica e biomassa. Em 2023, o Brasil registrou um aumento significativo na capacidade solar fotovoltaica instalada, refletindo o compromisso do país em ampliar sua participação de energias renováveis.Esse constante crescimento das fontes renováveis de energia colabora com o atingimento das metas do país assumidas no Acordo de Paris.
O relatório do WEF destaca a importância de políticas públicas robustas e investimentos contínuos para sustentar a transição energética. Ao longo dos anos, o Brasil tem se beneficiado de políticas de incentivo, como leilões de energia renovável, que atraem investimentos privados para o setor. Além disso, a implementação de políticas de eficiência energética e o fortalecimento das instituições regulatórias são fundamentais para garantir um ambiente propício para a transição energética. As fontes de financiamentos públicos também contribuíram para incentivar a renovabilidade da matriz elétrica brasileira.
Também aponta o relatório que o Brasil também se beneficiaria a partir do incremento de cooperações internacionais que focassem em superar os desafios financeiros e tecnológicos da transição energética em países emergentes. O apoio de organizações internacionais e parcerias com outros países podem fornecer recursos necessários para expandir a infraestrutura de energia renovável, bem como desenvolver e implementar tecnologias de armazenamento de energia, a exemplo das hidrelétricas reversíveis, que podem ser consideradas uma “bateria natural” a partir do acúmulo de água em reservatórios específicos, para sua utilização na geração de energia quando necessário.
Portanto, o potencial hidrelétrico do Brasil é um componente crucial da sua estratégia de transição energética, oferecendo uma fonte limpa, renovável e abundante de energia.Ademais, para garantir a segurança energética e a sustentabilidade ambiental, é necessário manter a diversificação da matriz energética com segurança no suprimento. Políticas públicas eficazes, investimentos contínuos e cooperação internacional serão essenciais para que o Brasil continue a liderar a transição energética nas economias emergentes. O progresso alcançado pelo Brasil até agora é exemplar, mas há um longo caminho a percorrer para assegurar uma transição energética verdadeiramente justa e sustentável.
Charles Lenzi é presidente-executivo da ABRAGEL – Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa